quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Cuba, antes e depois da "revolucion" segunda parte


Cuba, antes da revolução de Fidel: indicadores econômicos invejados por Japão, Irlanda, Áustria, Espanha e Itália. Trabalhadores cubanos tinham renda per-capita próxima dos britânicos.

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Cuba, antes da revolução comunista, em 1959, era um país que causava inveja ao mundo. Sua renda per-capita era próxima dos britânicos, menor taxa de analfabetismo na América Latina, maior número de médicos entre os povos ibero-americanos, excelentes hospitais, garantias trabalhistas, salário mínimo e autonomia universitária já existiam em Cuba por volta de 1937. Na década de 50 Cuba, elegeu o primeiro presidente negro. Havana possuía toda tecnologia possível como tv em cores, rádios, cinemas, transporte público e a maior taxa per capita de carros da américa.

O socialismo não funcionou na ilha que se desmanchou em ruínas. Vejam alguns indicadores antes e depois, que impressionam. As fontes mais pesquisadas são ONU e Unesco.

EDUCAÇÃO

Em 1956 a ONU reconhecia Cuba como o país ibero-americano com o menor índice de analfabetismo. Naquela data mais de 76% da população já era alfabetizada. A infraestrutura educacional cubana que permitiu esses resultados foi implantada 30 anos antes da chegada do comunismo na ilha.

Hoje as escolas estão falidas e até o "lanche obrigatório", quando é oferecido pelo governo, é recusado pelas crianças. Os pais levam comida de casa (que passam pelas cercas) que geralmente é repartida com os professores. Os pais tem que pagar pelos materiais escolares, lâmpadas, consertos de carteiras, mesas e quadro negro. O índice de alfabetização "informado pelo governo" é de 99%. Cuba não participa e nem autoriza o PISA - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes - colher informações no país sobre educação. Em países sob ditadura "prevalecem os números oficiais". Um professor cubano recebe pouco mais de 10 dólares... por mês.

MÉDICOS

Na década de 50 Cuba já detinha o maior número de médicos per-capita, entre países ibero-americanos formados em modernas universidades. Em 1957 a ONU fez esse reconhecimento. Havia um médico para cada 980 habitantes, taxa que perdia apenas para a Argentina.

As atuais universidades cubanas são desequipadas e a infraestrutura, herdada pela revolução, não foi mantida. Em Cuba um médico ganha pouco mais de 60 dólares mensais (aumento anunciado em março de 2014) e o governo comunista "exporta" os serviços de médicos para outros países e fica com 70% do salário pago. O médico não pode levar sua família para o país de trabalho. É a garantia do governo que ele não fuja. Uma enfermeira ganha 37,6 dólares mensais.

HOSPITAIS

Antes da revolução Cuba detinha modernos hospitais e excelência nos tratamentos médicos de internação. Na década de 50 existiam uma cama hospitalar para cada 190 habitantes, taxa altíssima em todo mundo. A taxa mortalidade anual em Cuba (5,8 mortes anuais por 1000 habitantes) era menor que a dos Estados Unidos (9,5) e Canadál (7,6) naquela período. A taxa de mortalidade infantil era uma das mais baixas do mundo: 3,76.

Os hospitais da "revolucion" são os mesmos mas, são sujos, mal conservados e os pacientes são obrigados a levar roupa de cama, produtos de higiene pessoal e para limpeza dos banheiros, material hospitalar como injeções, gases, material cirúrgico e até medicamentos. O maior hospital e mais bem equipado atende "estrangeiros" e membros da alta cúpula governamental.

Cuba, em 1956: indicadores
econômicos expressivos.
TURISMO

A ilha cubana foi um enorme centro turístico com moderníssimos hotéis e serviços igualados aos dos norte americanos. e franceses. Como Havana transformara-se num paraíso para turistas, a tecnologia chegava fácil e rápido à ilha, como ar condicionado central no Hotel Riviera, muito antes de chegar ao Brasil, por exemplo e em muitos países europeus.

Hoje os principais atrativos do turismo cubano são as belezas naturais e a prostituição. Não existe infraestrutura hoteleira.

ECONOMIA

Antes, Cuba detinha uma economia de fazer inveja ao mundo. Na década de 50 chegou a ocupar a segunda 
posição em renda per-capita entre países do centro e sul da América, maior que a Itália e mais que o dobro da Espanha e causava inveja a Áustria, Irlanda e Japão. Por volta de 57 a paridade dólar/peso cubano era 1 por 1.

Hoje, o salário de um cubano não passa de 20/30 dólares e seus cidadãos vivem da venda de charutos roubados das fábricas estatais, da venda de produtos proibidos no mercado negro ou de pequenos negócios. Restaurantes populares caseiros foram permitidos faz 8 anos. Os restaurantes oficiais são gerenciados pelo governo, como os táxis e a venda de sorvetes. Mas a sobrevivência de muitos vem da "FÉ, como dizem os próprios cubanos: Família no Exterior. A entrada de dólares de cubanos que se asilaram em Miami, por exemplo, sustenta milhares de residentes na ilha. Porteiros e taxistas ganham mais que médicos porque "pegam" gorjetas em dólares.
  

O Capitólio cubano e todos os prédios em concreto armado, foram construídos antes de Fidel e sua revolução. Hoje Havana é um amontoado de lixo e prédios desabando.

TECNOLOGIA E AVANÇO SOCIAL

A jornada de trabalho de 8 horas, salário mínimo e autonomia universitária já existiam em Cuba por volta de 1937. Não foi obra do socialismo. A TV em cores, que no Brasil chegou na década de 70, já existia em Cuba no ano de 1958. Cuba tinha o quinto maior número de tvs no mundo. A ilha já tinha mais de 160 emissoras de rádio nas décadas de 50/60, mais de um milhão de rádios receptores e mais de 350 salas de cinema. A primeira estação de rádio foi fundada em 1922.

Os cubanos, hoje, só podem assistir canais de tv e rádio controlados pelo sistema. Existe apenas um jornal oficial - o Granma - e os jornalistas são contratados pelo governo.

ALIMENTAÇÃO

Cuba, antes da revolução, foi segundo colocado na America Latina no consumo calórico per-capita diário. A ilha, antes da revolução, era a terceira maior produtora de arroz nas Américas Central e do Sul.

Hoje seus cidadãos vivem de cotas de alimentos insuficientes para o sustento das famílias que tem que recorrer a "práticas ilegais" para sobreviver. Inclusive prostituição. Quase 80% dos alimentos são importados porque as "fazendas coletivas" não conseguem bons resultados. O arroz vem do Vietnã.

TECNOLOGIAS E CONQUISTAS

Por volta de 1829, Cuba já se utilizava de máquinas e barcos à vapor. A ferrovia foi instalada em 1837. Telefonia sem interferência de telefonistas foi implantada em Cuba muito antes que nos países latino-americanos. Em 1959 a taxa era de 2,6 telefones para cada 100 habitantes. Em 1918 o país já concedia o divórcio que só chegou ao Brasil quase 60 anos depois.

Outras estatísticas continuaram praticamente inalteradas após a revolução. Dados de 1959 mostram que o país tinha uma taxa de 2,6 telefones para 100 habitantes, e esta era a maior taxa de toda América Latina. Dados coletados em 1995 mostraram, incrivelmente, uma taxa de apenas 3 linhas de telefone para cada 100 habitantes do país.

Em 1995, 36 anos depois, a taxa de telefones "subiu" para 3 linhas. O atraso em Cuba, hoje, é tão grande que a internet doméstica é proibida e só em 2013 é que foram instaladas lan house em Havana, cuja navegação é controlada pelo sistema. O transporte coletivo utiliza caminhões com carrocerias adaptadas.

Na ONU a confissão pública dos crimes: "fuzilamos e continuaremos fuzilando" - diz Guevara.

LIBERDADE

A democracia cubana elegeu, na década de quarenta, seu primeiro presidente negro, fato que só ocorreu nos Estados Unidos 68 anos depois. Cuba detinha uma constituição considerada avançadíssima para a época como reconhecer o direito do voto das mulheres, igualdade de direitos entre sexos e raças e direitos trabalhistas.

Havia cerca de 70 jornais circulando pela ilha (101 jornais para cada grupo de 1000 habitantes), evidências de boa alfabetização e liberdade individual na era pré-revolução. A revolução manteve baixo o índice de analfabetismo mas, proibiu os jornais. Existe apenas uma publicação oficial.

Porém, apesar de próspera, corrupção, racismo, desigualdades sociais e censura contra opositores eram comuns no país no período de Fulgêncio Batista.

Desde 1959, quando venceu a revolução castrista, não há liberdade individual ou de imprensa em Cuba. As desigualdades sociais - comuns na maioria dos países, naquele período - levaram Fidel Castro liderar uma guerrilha contra Fulgêncio Batista, derrubado em janeiro de 1959.

As promessas da "revolucion" eram de fartura e igualdade. Castro tomou o poder, acabou com as eleições, implantou uma ditadura violenta, matou mais de 120 mil cubanos opositores (Che Guevara discursou na ONU e afirmou que os fuzilamentos no "paredon" continuariam).

Ele destruiu a economia do país. O comunismo cubano foi sustentado pela URSS, até falir em 1989. Sem a ajuda soviética, Cuba definhou mais rapidamente. Organismos internacionais de Direitos Humanos constantemente denunciam o regime cubano de cercear a liberdade de imprensa e manifestações da oposição. Existem presos políticos nos cárceres cubanos. Sair do país, sem autorização, significa morte. Milhares conseguiram burlar a vigilância e fugiram para os Estados Unidos. Centenas morreram, muitos fuzilados. O único jornal do país, o Granma, mantém o estilo triunfalista das "conquistas da revolução" e reprodução de longos discursos dos líderes comunistas.

País pobre, formado por maioria negra, as desigualdades permaneceram: fartura só para membros do governo que podem adquirir comida e bens de luxo enquanto o povo vive de ração de alimentos e sem infraestrutura. A corrupção, como em todo regime socialista, aumentou entre membros do governo. O serviço público é péssimo e seus agentes praticam o "sociolismo" - palavra comum entre cubanos para se referir ao pagamento de propinas para se obter algum benefício do governo.

RENDA PER-CAPITA

Na década de 50 a renda per-capita média de um cubano era equivalente a 11.300 dólares anuais (atualizado para dólar atual), pouca menor que os 11.800 dólares do trabalhador britânico, na época.

O socialismo cubano não conseguiu nem mesmo produzir o suficiente para se sustentar buscando ajuda dos comunistas da extinta URSS. Os indicadores econômicos cubanos são nulos. O crescimento da sua economia é baixíssima, próxima a de muitos países africanos. Russos chineses e vietnamitas, por exemplo, adotaram o capitalismo e conseguiram excelentes resultados econômicos melhoramento a qualidade de vida do povo.

HABITAÇÃO E TRANSPORTE

Todos os prédios existentes hoje em Cuba foram construídos no período pré-revolução, com excelente infra estrutura. Pós Fidel pouca coisa foi acrescentada. Cuba possuía uma excelente frota de ônibus e "bondes" e tinha a segunda maior frota de carros da América Latina - 24 veículos para cada mil habitantes -atrás apenas da Venezuela, na época.

A população vive em prédios cedidos pelo governo, gratuitamente. São construções antigas, destruídas pelo tempo, sem o mínimo conforto e segurança. Todos os planos socialistas de habitação, falharam. O transporte público é adaptado, improvisado e inseguro. Visitantes riem quando se deparam com os "ônibus" cubanos trafegando por Havana. A frota de carros é antiga, sem peças e com muitas adaptações. Hoje, por conta da idade dos velhos carros americanos, transformaram-se em "atração turística".



Falta de peças de reposição e a improvisação no transporte público

RACISMO

A população cubana é de maioria negra, ascendente de escravos trazidos da África. O racismo no período pré-revolução era real. Os brancos dominavam as áreas da economia e governo restando aos negros trabalhos subalternos.

Com a revolução de Castro, o racismo, que já existia, consolidou-se em Cuba. Considere que o ícone Che Guevara, conforme afirmam seus ex-companheiros de guerrilha, odiava negros e os chamava de indolentes e preguiçosos. Os brancos, que já eram mais ricos e influentes antes da revolução, continuaram com os melhores salários e melhores habitações. Membros brancos do governo tem autorização para adquirir carros novos enquanto os negros disputam a compra dos antigos carros americanos das décadas de 40 e 50.

TRABALHO E SALÁRIO

Em 1958 o desemprego entre cubanos era de 7%, a menor taxa na América Latina. O salário no país estava em torno de 6 dólares por hora na indústria - 8º melhor salário mundial - e 3 dólares na agricultura, a 7ª melhor do mundo, suficientes para sustentar a família.

Em 2014 o jornal Granma anunciou um aumento de mais de 150% para os médicos, saltando de 25 para 64 dólares/mês. Oficialmente o salário médio do trabalhador cubano é de 29 dólares. Os "dados oficiais" não são nada confiáveis num país que não permite monitoramento de suas contas por organismos internacionais.

BLOQUEIO

Em 1960, após atritos com os revolucionários no poder por causa de refinarias americanas em solo cubano, Dwight Eisenhower, presidente americano, impôs bloqueio comercial ao país excetuando alimentos e medicamentos. Quando Cuba declarou-se marxista - até então Fidel dizia que a revolução era humanista, não comunista - em plena guerra fria, John Kennedy conseguiu aprovar no congresso um bloqueio comercial mais pesado. Mas desde 2000 os agricultores americanos negociam com Cuba.

Barack Obama, desconsiderando presos políticos e denúncias constantes de quebra dos direitos humanos e falta de liberdade individual e de imprensa, "reatou" relações com a ilha.

O governo comunista aproveitou-se para promover grande campanha mundial contra o bloqueio, sem sucesso. Todas as justificativas para o declínio cubano passa por essa linha. Mesmo com apoio financeiro irrestrito da URSS, a agricultura coletiva e a indústria de Cuba nunca avançaram. O déficit na balança comercial cubana é gigantesco: importa mais do que vende. A agricultura coletiva não produz e seu único produto de maior sucesso é o açúcar. A produção industrial é irrelevante. A estatização industrial teve os mesmos resultados que União Soviética, China e Vietnã: fracasso total. Isso explica bem a falência do socialismo no mundo.

Sem mecanização - "porque as máquinas tiram o trabalho do homem" - a produção agrícola é baixa e não representa muito no caixa da ilha. Pior de tudo isso é que a falta de manutenção das usinas açucareiras provocam quedas gigantescas na produção.

Veja como era Cuba antes da "Revolucion" de Fidel Castro.
Esta e as fotos abaixo mostram a decadência socialista: Cuba, hoje.







segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Escravos de todas as cores

Escravas brancas capturadas na Europa para abastecer haréns na península arábica. 

Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

Escravo é um adjetivo substantivo que vem do latin "Sclavus" - pessoa que é propriedade de outra - ou de "Slavus", de eslavo - referência a povos dessa etnia  que foram submetidos à escravidão, em determinados períodos da história, como na baixa idade média.

A condição de escravidão poderia ser determinada numa sentença, por um crime ou por se tornar um prisioneiro de guerra. Na região do oriente havia tráfico de mulheres escravas, comercializadas sem restrições, para abastecer haréns. A produção agrícola deficiente poderia levar um povo a se oferecer ao trabalho escravo em troca de sobrevivência. Nessa condição, passavam a ser propriedade de outro, por tempo combinado ou indeterminado. A incapacidade de saldar uma dívida era motivo para uma pessoa se tornar escrava de outra, dependendo de cada civilização.

Os romanos, por exemplo, impunham o trabalho forçado na produção em suas fazendas, ao contrário da egípcia onde os escravos se ocupavam mais com trabalhos domésticos ou esforço de guerra, com exceções. Na Grécia antiga toda família tinha um escravo. 

Portanto, um grande  erro é associar a natureza racial com a escravidão, isto é, não apenas negros foram submetidos a ela (estima-se que pouco menos de 12 milhões de negros foram traficados da África para as Américas, durante 400 anos e cerca de 5 milhões para regiões da península arábica) mas, milhões de brancos e amarelos viveram a escravidão considerando que essa prática foi comum e aceita durante milênios e abolida somente a partir do século XIX. Na Grécia, Roma, Egito a escravidão branca foi maioria. Ainda no século passado vários países eslavos viveram subjugados por outras nações.

Últimos anos de escravidão no Brasil. Fonte: IMS, página do site Café História
Negros escravizavam negros

Na verdade a escravidão já estava presente na África muito antes dos europeus e árabes iniciarem as rotas escravagistas. Imagine um gigantesco continente, como o africano, que abriga dezenas de etnias e cada qual com sua organização política e social. As beligerâncias armadas eram constantes e são comuns nos dias de hoje, ainda.

Em solo africano era comum a posse de escravos negros de propriedade de senhorios, também negros. Tribos maiores capturavam membros de tribos mais fracas para trabalho em seu território ou para vender no mercado árabe de escravos. O escambo - comércio de trocas - era intenso com outros países.

Com o domínio árabe dos portos africanos, aumentou muito a venda dessa mão de obra. Cerca de 5 milhões, entre os séculos VII e XIX, foram enviados para países árabes e até mesmo à China. Com o aumento desse mercado igualmente cresceram as guerras entre tribos africanas para o domínio e a captura de mais escravos.

O comércio cresceu com as rotas de navios negreiros para as Américas. A negociação era feita na base de troca: escravos x ferro, tecidos, bebidas. O ferro era transformado em armas o que tornava a tribo mais forte contra inimigos na guerra por escravos. Angola, Congo e Guiné foram os principais fornecedores. 


Os capturados eram levados para os portos e, de lá, para o Brasil, por exemplo, numa viagem de 35 dias em condições desumanas. Ingleses, franceses e holandeses também mantinham comércio escravagista com os líderes africanos, cada vez mais ricos e poderosos. O interesse dos chefes tribais por armas de ataque e defesa era imenso porque isso significava a sua sobrevivência. Curiosamente o tema escravidão é tabu na África e assunto muito delicado para ser abordado, por exemplo, numa entrevista.

No século XVIII Portugal, que já tinha perdido o domínio sobre o comércio de escravos, aboliu a escravatura na metrópole portuguesa e na Índia durante o reinado de dom José em 12 de fevereiro de 1761. No Brasil a princesa Isabel assinou a abolição somente 127 anos depois.

Robert Davis, professor de história social italiana, na Universidade Ohio State, afirmou que mais de 1 milhão de brancos europeus foram escravizados por traficantes norte-africanos entre 1530 e 1780 com ataques piratas nas costas do Mediterrâneo e Atlântico.

"Ser escravizado era uma possibilidade muito real para qualquer pessoa que viajasse pelo Mediterrâneo ou que habitasse o litoral de países como Itália, França, Espanha ou Portugal, ou até mesmo países mais ao norte, como Reino Unido e Islândia" - afirmou o historiador. Os capturados eram usados como remadores ou na construção. A fuga da população costeira, para o interior, é um registro na história desses países. Em 1544 os corsários invadiram a região que hoje é a Itália e escravizaram mais de 7 mil pessoas vendidas no norte da África.

Robert Davis: "Christian Slaves, Muslim Masters: White Slavery in the Mediterranean, the Barbary Coast, and Italy, 1500-1800" (escravos cristãos, senhores muçulmanos: a escravidão branca no Mediterrâneo, na costa Berbere e na Itália).
Quadro de 1700 mostra a praça do Mercado de Escravos Brancos que eram expostos para venda depois de serem capturados na Europa: trabalhos forçados ou remadores em navios.
Ninguém está isento de culpa

O economista, crítico social, filósofo e professor universitário negro, Thomas Sowell resumiu: Nenhuma raça, país ou civilização está isento de culpa. A escravidão era um negócio feio e sujo, mas indivíduos de praticamente todas as raças, cores e credos estavam envolvidos nela em todos os continentes habitados.
Thomas Sowell

E as pessoas que eles escravizavam também eram de praticamente todas as raças, cores e credos". Diz ele que “os europeus escravizaram outros europeus durante séculos antes que o esgotamento de escravos brancos os levasse a recorrer à África como fonte de escravos para o Hemisfério Ocidental.

O imperador romano Júlio César marchou em Roma numa procissão que incluía escravos britânicos capturados. Duas décadas depois que os negros foram emancipados nos Estados Unidos, ainda havia escravos brancos sendo vendidos no Egito.

A mesma história se repete na Ásia, África, entre os polinésios e entre os povos indígenas do Hemisfério Ocidental.

Escravidão no Japão

Somente em 1590 a escravidão de japoneses foi abolida (no período de Toyotomi Hideyoshi). Há registros de escravidão naquele país desde o século III dC. No século VIII os Nuhi, como eram chamados, eram usados na agricultura e trabalhos domésticos. Registros apontam que eles eram quase 5% da população do país.

Nos séculos XVI e XVII navios portugueses promoveram intensa exportação de escravos japoneses para outras regiões do mundo, inclusive Europa. Em Portugal, as mulheres eram usadas como escravas sexuais. Sebastião de Portugal proibiu a vinda de novos escravos do Japão em 1571.

Escravidão na Rússia

Era comum, em torno do século XVI, pessoas que se vendiam como escravas para famílias ricas, por não ter o que comer. "Livros de conselhos" da época falavam em saber escolher um escravo de bom caráter e trata-lo bem considerando que um "kholops" poderia conviver por longo período com a família. Foi Pedro, o Grande, que "aboliu" a escravidão na Rússia tornando-os servos domésticos ou na agricultura.

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Eu, o privilegiado


Por Edson Joel Hirano Kamakura de Souza

- O senhor é um privilegiado!

A afirmação foi feita por uma jovem funcionária da TAM, dentro do ônibus que me conduzia pela pista do aeroporto de Congonhas, onde embarcaria para Marília. O avião era um Fokker, asa alta e estava me aguardando. Dentro do ônibus apenas o motorista, ela e eu. Senti-me constrangido naquela momento. Um ônibus só pra mim era muito privilégio mesmo.

Tinha sido um longo dia de trabalho em São Paulo e precisava retornar para minha sede, no interior, naquela noite. Tinha compromissos inadiáveis na manhã seguinte. Tomei um taxi rumo a Congonhas, desviamos do congestionamento e acabei chegando em cima da hora para tentar o embarque.

- Lamento, senhor! - disse a atendente, no balcão de passagens. Depois de muita insistência ela decidiu consultar o comandante, por telefone.

- A porta já subiu e a aeronave está iniciando o procedimento de taxiamento para decolar, senhor. Lamento, mas não voará hoje - sentenciou a simpática funcionária.

Eu já estava pensando no plano bê quando o telefone tocou para a atendente e, pela sua reação, percebi que havia uma esperança de voar pra casa naquela noite.

- Ok, senhor. Vou emitir sua passagem. O comandante vai esperar.

Enquanto ela procedia a emissão eu pensava como encarar os passageiros hora que subisse à bordo. Imaginei a reação dos olhares fulminantes me condenando e adjetivos não verbalizados do tipo "bonitão da bala Chita, atrasadinho, irresponsável..." e, quiçá, alguns palavrões nada recomendáveis. De posse da passagem fiz o possível para alcançar o ônibus rapidamente. Estava atrasando o voo de muita gente.

A funcionária do ônibus sorriu e fez o comentário que me fez constranger. Preparei-me para comportar com humildade, quase como uma desculpa pelo atraso. Ao aproximar da aeronave, a escada desceu. Subi rapidamente, cumprimentando a aeromoça que carregava o irrecusável sorriso de boas vindas. Pedi desculpas e cumpri o ritual que já tinha planejado: entrar de cabeça baixa, evitar olhares dos passageiros, sentar-me nos últimos bancos e erguer a cabeça somente no meio do voo.

Assim foi. Entrei pelo corredor, pelos fundos, baixei os olhos e sentei-me na primeira poltrona. Afivelei o cinto e lá fiquei. Quieto. Silencioso, constrangido, humilde. Nunca antes isso me ocorrera. "O senhor é um privilegiado" repicava na minha cabeça.

O avião começou a se mover para tomar a pista. Tomei coragem e arrisquei uma olhadinha pelo corredor. Tudo calmo. Muito calmo. Ergui a cabeça, estiquei o pescoço, olhando por cima das poltronas e nada. Nenhuma cabeça à vista. Eita, o que está ocorrendo?

Levantei-me e não vi ninguém, exceto as aeromoças. Cerrei as sobrancelhas e perguntei em voz alta: cadê todo mundo?

- Como todo mundo? - respondeu a aeromoça, reperguntando. O único passageiro é o senhor. Ninguém mais. O senhor é um privilegiado - repetiu a mesma frase da moça do ônibus.

- Eita! Dispenso todos os serviços e formalidades - sentenciei. Quero apenas um café, quando decolarmos. E chamem todos pra gente conversar aqui no fundão.

Contei pra elas do meu constrangimento de ter um ônibus só pra mim quando, de verdade, tinha um avião inteiro. Foi meu melhor voo. Voltei a cruzar com a tripulação muitas vezes e nos tratávamos como velhos amigos. Sabíamos da história de cada um. Tempo não nos faltou pra contar lorotas.

Professores brasileiros têm salário adequado e benefícios acima da média, diz Banco Mundial

Docentes têm evolução salarial e previdência melhores do que a maioria dos países; segundo estudo, chave para melhoria é incentivo por desempenho.

Por Gabriel de Arruda Castro
22/11/2017 / 14h41

As queixas sobre a falta da qualidade da educação no Brasil costumam incluir uma premissa inquestionável: a de que os professores de escolas públicas são mal pagos e que essa é uma das principais razões para os maus resultados do ensino. Mas um novo estudo do Banco Mundial sustenta que essa premissa está errada.

O relatório, divulgado nesta terça-feira, aponta outras causas para a péssima relação entre o gasto público e os resultados das escolas: o desperdício, a ineficiência e a falta de incentivos para os docentes.
Eis o que diz o documento sobre os salários dos professores:

O piso salarial dos professores brasileiros está em linha com o que é pago em outros países com renda per capita similar. No entanto, os salários dos professores no Brasil aumentam rapidamente após o início da carreira. Devido às promoções automáticas baseadas nos anos de serviço e da participação em programas de formação, em 15 anos de carreira os salários se tornam duas a três vezes superiores ao salário inicial, em termos reais. Essa evolução supera significativamente a maioria dos países no mundo.

Além disso, vale destacar que os professores brasileiros têm direito a planos previdenciários relativamente generosos quando comparado a outros países da OCDE. Essa generosidade dos benefícios previdenciários é muito superior aos padrões internacionais.

De acordo com o relatório, seria possível aumentar a qualidade do ensino fundamental em 40% e a do ensino médio em 18% sem aumentar as despesas com educação. Bastaria aumentar a eficiência na aplicação dos recursos e acabar com o desperdício.

Roberto Ellery, professor de Economia da Universidade de Brasília, concorda com as linhas gerais do estudo: “Existe um problema de gestão gigantesco. Não é pequeno, é gigantesco. Sem resolver isso, nem vale a pena botar mais recurso, porque existe a chance de ele ser mal aplicado”, avalia.

Para o especialista, há ainda outros tabus que precisam ser enfrentados no universo educacional no Brasil, que passam pela questão pedagógica. Entre eles, o tamanho das salas de aula. “Na Ásia, você tem turmas grandes com resultados muito bons”, pondera. “Isso tudo são propostas. Se você leva isso para uma escola, te acusam de fascista”, diz.

Já Gilmar Bornatto, professor da PUCPR, questiona a metodologia usada pelo estudo do Banco Mundial e diz que a condição salarial no Brasil é, sim, um fato importante para a melhoria do magistério. “Os talentos acabam fugindo do magistério e a qualidade acaba caindo”, afirma.

“Esse jovem que tem uma formação boa no ensino médio acaba procurando outra profissão. O que acaba vindo para o magistério vem de uma escola deficitária, da periferia, já trabalha, estuda à noite. E aí gera um professor que tem que correr atrás”, diz Bornatto.

O documento do Banco Mundial também afirma que a profissão é desprestigiada, mas aponta outras explicações para o problema: a pouca seletividade na contratação desses profissionais e a falta de uma relação entre o salário e o nível de desempenho do professor.

O texto aponta alguns exemplos já aplicados e que mostram ser possível, melhorar a educação com recursos limitados.

O governo do Ceará, por exemplo, distribui os recursos do ICMS para os municípios de acordo com o índice de qualidade da educação de cada um.

No Amazonas, os professores passam por uma avaliação de desempenho no início da carreira e podem ser desligados se não cumprirem os requisitos. Os estados do Rio de Janeiro e de Pernambuco já adotam um bônus financeiro por desempenho para os professores.

“Todas essas experiências se mostraram efetivas, não somente melhorando o desempenho dos alunos, mas também aumentando a eficiência do gasto público em educação”, afirma o documento.

Fonte: Gazeta do Povo